segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Dez Segredos Para Viver Numa Casa Feliz

Apreciar e valorizar a simplicidade do cotidiano, a luz que envolve a mesa na primeira hora do dia, as plantas que nascem inesperadamente.

Vislumbrar os detalhes que rodeiam o seu lar pode ser a fórmula para ser feliz hoje.
A designer holandesa Lidewij Edelkoort tem uma boa ideia a respeito do que se pode querer da vida daqui a cinco ou dez anos.

Li é conhecida como a maior autoridade em previsão de tendências do mundo.
Aos 61 anos, 20 deles foram dedicados a estudar o comportamento de consumo em vários países.
Antecipa para clientes como Nissan, Lacoste e Coca-Cola quais serão os próximos desejos dos consumidores, de seus escritórios em Nova York, Paris e Tóquio.

Não só na estação seguinte, mas na próxima década. “As pessoas falam como se eu fosse uma mística, uma adivinha. No entanto, tudo o que faço é prestar atenção no mundo”, relata.

A última novidade da arquitetura, da moda e do design, as culturas tradicionais, os movimentos políticos e as mudanças sociais (nada escapa ao seu caderno de anotações - cola fotos, recortes de notícias de jornal, desenhos e pedaços de tecido).

Quando estuda um hábito de consumo, mais do que saber onde se comprou ou quanto se gastou ela persegue os desejos profundos que movem as pessoas quando escolhem uma cortina ou decidem pintar uma parede de verde.

O resultado das análises é editado em catálogos exclusivos e na revista semestral Bloom.


Ao contrário do que se possa imaginar, não se encontram projetos, paletas de cores nem tendências batizadas com algum nome criativo.
São cadernos de inspiração, de convite à criação, à reflexão sobre os desejos profundos, instintivos, que normalmente acabam soterrados pela correria do cotidiano.
Conceitos abstratos e imagens etéreas que servem como excelente ponto de partida para a concepção de todo tipo de produção, inclusive dos projetos de construção e reformas.

Em tarde nublada do outono parisiense apresentou alguns desses conceitos, dessas vontades que nomeia de `culturais`.



1. O dom da luz
A janela é um espaço privilegiado da casa - emoldura a paisagem e funciona como uma ponte entre o que está dentro e o que está fora. Convida a sair e traz para a casa um pedaço do resto do mundo.
Quando pensar em cortinas, não se deve querer isolamento. Modelos pesados como os de veludo vermelho do teatro só são bem-vindos como um jeito inteligente de dividir ambientes, no interior da casa.

Nas janelas, cortinas são cúmplices da luz, não seus algozes. Devem ser de fibra natural, para balançarem ao vento, como o vestido de uma criança correndo pelo corredor, depois de um banho fresco no meio de uma tarde de verão.



A luz não é um detalhe: ela é a vida por completo. Deve-se deixar acordar pelo sol da manhã, tocando de leve a pele. Sentir no corpo a alegria de se estar vivo.

2. O cuidado dos outros
Talvez já se tenha presenciado a cena de um reencontro de pessoas queridas em um aeroporto e, mesmo sem conhecer os envolvidos, toma-se aquela alegria como de si própria.
A explicação para esse sentimento: todos fazem parte da grande família dos homens.

Cada vez que um idoso segurar um bebê no colo ou quando se toca a barriga de uma mulher grávida, ou que a mão calejada de um homem segurar delicadamente a de um menino, fixa-se essa cena na mente de quem observou essas manifestações.
Pensar na família, nos amigos, na necessidade que cada ser carrega de trocar experiências e de entrar em contato.

Não se deve negligenciar a conexão íntima, rústica, que não passa pela palavra e sim valorizar a simplicidade da amizade entre todos os espíritos – com seu próprio cachorro ou até mesmo com um gatinho de rua.
Apaixonar-se pelo ciclo da vida e compartilhar com o outro a essência desse modo de viver.


3. A beleza do inacabado
Há milênios, os japoneses cultivam uma estética baseada na aceitação da transcendência e do eternamente inacabado.
Concebida como a beleza do imperfeito, do impermanente e do incompleto, a filosofia wabi-sabi se expressa no ritual do chá, nos arranjos de ikebana, no exercício interminável de manter um jardim feito de pedrinhas e areia, na qual se desenha e redesenha com a ajuda de um ancinho.



Mais do que o resultado final, é o ritual que importa. Amar o inacabado é aceitar que viver não se trata de atingir um objetivo. No fundo, nunca se chega lá.
O que importa é o caminho. Celebrar o assimétrico, o instável. Ninguém precisa recuperar o jardim zen que teve um dia para entrar em contato com essa filosofia.
O desafio é construir um jardim zen interno, espiritual. Encontrar o ritual eternamente inacabado, que não tenha nenhum objetivo maior a não ser fazer a pessoa feliz.



4. A ordem das coisas
Percebe-se como as casas estão cada vez menores. Em menos cômodos há mais convivência - mais perto de quem se ama. Não é uma questão de espaço, mas de organização.
Em uma casa menor, só cabe o que importa. Livrar-se de tudo o que entulha a vida. Deletar o supérfluo. Arquivar as memórias.

Os móveis precisam servir para alguma coisa: estantes, gavetas, criar caixas. Ousar reciclar, acolher os materiais baratos – papel kraft, caixas de feira e nichos de madeira.
Nutrir o hábito de classificar o essencial. Fazer da organização um ritual de purificação e não uma penitência. Resumir.
E, sobretudo, permitir o vazio e o celebrar. Ele é um convite à criação.


5. As habilidades das mãos
Dispor de um arsenal sobre a mesa: lápis, lã e agulha de tricô, uma xícara de farinha, um pedaço de tecido.
Desafiar as mãos a escolher as armas. Ao ataque: criar. Usar as habilidades das mãos dá sentido à vida.


“Muitas vezes ouvi, e tenho certeza de que você também, pessoas dizerem ‘no dia em que eu tiver meu ateliê, vou pintar quadros’, ou então ‘vou fazer esculturas...’. Todos nós sabemos que não precisamos de nada disso. Simplesmente vá lá e faça”.

Grandes criadores contemporâneos, como o arquiteto italiano Andrea Branzi, concebem móveis nos quais acoplam criações: gravuras, pinturas, esculturas que já vêm como parte de uma estante.
Mas logo ao lado há um nicho, um espaço vazio, convidando a ser ocupado. Para que comprar, se pode se criar?


6. A cura pelas plantas
Aprender com as plantas a viver o momento presente. Amanhã a flor pode já ter murchado. Amanhã pode ser que não chova, ou que falte o sol.
Aprender com as plantas a não economizar experimentações. Viver o hoje intensamente.
Aprender a aceitar o eterno ciclo da mudança de estações como uma bênção.

Receber cada fase como um novo começo e não como um novo fim.
Ter em mente que é sempre possível replantar, mudar de terra. Celebrar, numa simples mudança de jardineira, a promessa da terra nova.


Os budistas dizem que, se as pessoas pudessem perceber claramente o milagre que representa uma simples flor, a vida mudaria por completo.

Contemplar a vida em suas infinitas escalas – da planta inteira, raiz, caule e folhas, ao microcosmo de cada nervura de folha.
Cercar-se de plantas, aprender com elas. Acreditar numa vida mais saudável e mais perto do natural, em que as plantas sejam acolhidas numa casa como seres e não como objetos.


7. O sentimento de liberdade
Vive-se uma era nômade, sonha-se com evasão. Quer-se raízes – mas há necessidade de poder se livrar delas de vez em quando.
A mobilidade tornou-se uma urgência. Poder mudar permanentemente a casa de lugar tornou-se o idílio desse tempo.

Conta Liz: “Nas minhas férias, conheci um jovem que viajava por uma rota de praias em seu coupé conversível, luxuoso. A cada dia ele chegava a uma cidade diferente e instalava ao lado do carro uma minúscula tenda de camping para uma única pessoa, onde passava as noites. No contraste de seu belo carro com esse estilo de vida de uma simplicidade fundamental, extrema, eu vi o sonho contemporâneo de liberdade”.

O verdadeiro luxo de hoje em dia é poder ser livre. Dormir numa rede. Não seguir a moda.


Desenvolver uma relação mais profunda com os objetos que estão no entorno, buscar o essencial. Ter uma vida portátil.


8. Assar o pão
Do cheiro de pão no forno emana a promessa de um belo dia pela frente. Água, farinha, sal e fermento.
Nenhum alimento é mais simples. Nada pode ser mais essencial. Tocar o relevo da casca, saborear o barulho que ela faz ao ser partida com as mãos.
Experimentar a textura do miolo que se desfaz lentamente enquanto uma fumaça suave e quase transparente convida: ‘saboreie-me’.




Amar o cotidiano com o mesmo amor incansável com que todas as manhãs celebra-se a paixão pelo pão.
Cultivar pela vida esta mesma instigante e insaciável fome.


9. A alegria do lar
No fundo, a ideia é esta: a sensação que se tem quando volta de uma longa e cansativa viagem.

Deitar na cama, encostar a cabeça no travesseiro, colocar a música preferida para tocar, fechar os olhos e constatar: ‘enfim, em casa’.
Ao redor estão os livros favoritos.

Os quadros favoritos.
As comidas favoritas.
As pessoas favoritas.
Andar de pijama.
Beber leite.
Cozinhar.

Dormir debaixo de camadas e mais camadas do lençol mais macio que tiver.
E almoçar no chão da sala – se decidir assim.



Pensar nos sonhos de criança, quando tudo o que queria era morar numa cabana na árvore.
O que se levaria para lá?

O brinquedo preferido, a comida preferida, o amigo preferido – e não muito além.
É disso que se trata ter uma casa, um refúgio no qual a pessoa se reconheça em todos os objetos e móveis.


10. Patchwork de culturas
Um quimono e um turbante árabe. Uma louça chinesa sobre uma tapeçaria mexicana. O cocar de um índio brasileiro enfeitando uma máscara africana.
Artefatos de todos os povos, de todas as épocas, contam as mesmas histórias de valentia, de valores, de respeito.

Conectar culturas é celebrar o que existe de comum em toda a humanidade.
Antes de os europeus chegarem às Américas, povos indígenas de norte a sul do continente desenvolveram o ikat, uma técnica de tecelagem feita a partir de fios retorcidos.

Nunca foi possível identificar onde a tradição começou. Estampas semelhantes e técnicas idênticas surgiram em diferentes pontos do continente americano ao mesmo tempo.
Ensina Li: “O ikat é a metáfora perfeita das conexões que existem entre as culturas. A força espiritual que conecta as diferentes tradições. Um jeito nômade de descobrir conexões e celebrar as ligações invisíveis dos povos”.


Fonte: Revista Casa e Jardim - Por Carolina Nogueira.

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